Um recente artigo da Harvard Business Review traz uma dica estranha para que empreendores sejam bem sucedidos: querer menos. Como o autor Greg McKeown explica, ao obtermos sucesso em nossa carreira, conquistamos novas oportunidades. E são essas novas opções que podem desviar o nosso foco e nos levar ao… fracasso! Confira.
A busca disciplinada por menos
Por que pessoas e empresas bem sucedidas não se tornam automaticamente MUITO bem sucedidas? Uma explicação importante para esse fato diz respeito ao que vamos chamar de “Paradoxo da Claridade”. Esse conceito pode ser explicado em quatro fases:
Fase 1: Quando temos uma visão clara do nosso objetivo, alcançamos o sucesso.
Fase 2: Quando alcançamos o sucesso, conquistamos mais opções e oportunidades.
Fase 3: Quando temos mais opções e oportunidade, pulverizamos nossos investimentos.
Fase 4: Investimentos pulverizados e difusos diminuem a visão clara que nos levou ao sucesso inicialmente.
Esse ciclo, curiosamente, mostra que o sucesso pode ser um catalisador do fracasso. Podemos perceber como empresas que costumavam ser muito bem sucedidas, de repente entraram em colapso.
O guru da administração Jim Collins analisa esse fenômeno em seu livro “Como as Gigantes Caem” (Elsevier-Campus). Ele descobriu que uma das razões para esses fracassos foi a “busca indisciplinada por mais”. E o que é verdade para as empresas também é verdade para as carreiras.
Afinal, como profissionais, sempre chegamos a um ponto em que diversos outros caminhos e oportunidades se abrem. Mas apenas sabendo o que desejamos fazer de verdade pode nos dar força para dizer “Não” a muitos deles.
E o que você e a sua empresa podem fazer para evitar o “Paradoxo da Claridade” e seguir sempre para o alto e avante?
Primeiro, utilize critérios mais extremos
Ao aplicar critérios mais extremos, tornamos o mecanismo de busca do nosso cérebro mais eficiente. Se buscarmos por “uma boa oportunidade”, vamos encontrar diversas páginas de resultado para nos fazer pensar sobre nossas escolhas.
Mas, ao contrário, podemos conduzir uma pesquisa mais avançada e nos perguntar: “Pelo que eu sou realmente apaixonado?”, “Em que sou talentoso?”, e “O que pode suprir uma demanda importante do mundo?”. Naturalmente, essa busca não vai trazer tantos resultados quando a primeira, mas esse é justamente o objetivo desse exercício. Não estamos procurando por uma gama de coisas legais para fazer. Estamos procurando pelo que realmente nos fará um sucesso.
Segundo, pergunte-se “o que é essencial?”, e elimine o resto
Tudo muda quando nos damos permissão para eliminar o que não é essencial. É como se de repente ganhássemos uma chave para destravar o próximo nível das nossas vidas. Comece com:
Uma auditoria da sua vida. Da mesma forma como nossas mesas de trabalho ficam cheias de tralhas ao longo dos anos, também nossa vida fica desorganizada, na medida em que nossas ideias bem-intencionadas do passado vão se empilhando. Descubra que ideias do passado são importantes e vá atrás destas. Jogue fora as outras.
Elimine uma atividade antes de adicionar outra. Essa regra simples garante que você não acumule uma atividade que seja menos importante do que algo que você já está fazendo.
Terceiro, esteja atento ao “efeito de supervalorização”
Também conhecido como aversão ao despojamento, esse fenômeno representa a nossa tendência a supervalorizar um item a partir do momento em que o obtemos. Uma imagem simples do nosso dia a dia pode exemplifica-lo: pense em como um livro que tem na prateleira, que você não lê há anos parece aumentar em valor no exato momento em que você pensa em doa-lo para outra pessoa.
Uma possível cura para esse “efeito de supervalorização” pode ser aplicada à nossa visão clara de carreira: ao invés de perguntar “quanto eu valorizo essa oportunidade?”, pergunte-se “se eu não tivesse esse item, quanto eu estaria disposto a sacrificar para obte-la?”.
Querer menos, conquistar mais
Se o sucesso é um catalisador do fracasso porque nos leva a uma “busca indisciplinada por mais”, então um antídoto simples é a “busca disciplinada por menos”. Isso não significa dizer “Não” deliberadamente, mas sim propositalmente e estrategicamente eliminar o que não é essencial.
E não basta fazer isso uma vez por ano, mas sim constantemente. Reduzindo, focando e simplicando. Não apenas se despojando das tralhas mais óbvias, e sim estando disposto a eliminar oportunidades maravilhosas também.
Poucos profissionais têm coragem suficiente para viver de acordo com esse princípio, o que pode ser justamente o que diferencia pessoas e empresas bem-sucedidas das MUITO bem-sucedidas.
Texto e tradução Annita Velasque
Fonte Harvard Business Review